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Crônica inspirada no caso da garota Tessa Evans que mesmo nascendo sem nariz é uma menina muito feliz.
UMA CRÔNICA NOJENTA
Já foram “catalogadas” quarenta e sete pessoas no mundo que nasceram sem nariz. Esteticamente falando até parece uma coisa horrível, mas poderia “ser pior”. Já imaginaram se fosse o contrário? Ou seja: se o ser humano não tivesse nariz e nascessem quarenta e sete pessoas com esta miniatura de focinho espetada em cima da boca?
Nariz é nariz e ponto final. É como se a natureza, depois de ter feito o ser humano, resolvesse colocar algo de última hora: um pequeno focinho espetado bem no meio do nosso rosto angelical. Atente-se que a natureza nem se preocupou com a praticidade: considerando-se que este pequeno focinho tem dois buracos virados para baixo, cheio de cabelos impregnados de gosma, não seria mais adequado que fosse colocado onde fica o queixo, debaixo da boca? Assim a sujeira seria lançada diretamente ao chão sem escorrer pela boca.
Quando converso com anõezinhos eu me agacho até que as nossas cabeças estejam numa mesma altura. Isso nem é uma questão de respeito, é uma questão de vergonha mesmo. Eu sei que se ele ficar lá embaixo, com a face do rosto virada para cima, vai estar me vendo por um angulo bastante delicado: o seu olhar penetraria os dois buraquinhos do meu nariz graças a uma perspectiva privilegiada que somente os anões, as crianças e os adultos deitados têm. A diferença é que as crianças, por serem consideradas ingênuas, são muitas vezes desprezadas em seus pontos de vista. Será que elas são mesmo ingênuas ou simplesmente cautelosas? Já se perguntaram por que as crianças desenham os adultos somente na perspectiva de um outro adulto? O correto seria desenhá-los de baixo para cima como de fato elas os vêem.
Todos temos muitas coisas em comum: inclusive o fato de carregarmos espetado no meio da nossa face este pára-choque de cartilagem que nada mais é do que uma miniatura de focinho. Somos tão iguais e nos fazemos ser tão diferentes. Como já disse Fernando Pessoa: “Arre, estou farto de semideuses. Onde é que há gente neste mundo?”. Biologicamente falando ninguém é melhor do que ninguém. Como nunca defecamos tudo sempre vai sobrar uma boa quantidade em nossos intestinos. Quero dizer com isso que toda pessoa deste mundo, desde as que dormem na calçada até as que desfilam na passarela, independente da mídia considerar mais feia ou mais bela, onde quer que ela esteja, vai estar sempre carregando consigo um quilo daquilo.
Nem precisaríamos de um governo comunista para fazer com que enxerguemos a nossa igualdade. Poderíamos estar praticando o comunismo pela nossa própria essência humana e assim poder falar com os nossos superiores sem titubear. Todos deveríamos ser comunistas, literalmente comunistas. Comunistas não no sentido infame e mesquinho deste “comunismo contemporâneo”. Comunista de verdade: como Aquele personagem principal do livro mais antigo e mais lido de todos os tempos neste mundo: a bíblia.
Antes que alguém saia por aí dizendo que sou um louco, devo informá-los de que descobri uma escala para medir o grau de loucura das pessoas. Vai do zero que é o valor extremo de imbecilidade até mil que é o valor extremo de loucura. Quem estiver exatamente no meio desta escala ou seja, na marca 500, pode se considerar uma pessoa medíocre. Aposto que nenhum leitor vai querer ficar exatamente no meio desta escala, nem tão pouco nas escalas inferiores que afirmam a graduação de imbecilidade. Aposto que todos, assim como eu, vão querer estar nas marcas superiores que registram o nosso grau de loucura. Podemos concluir daí que sendo corintianos ou não somos todos um bando de loucos, uns mais e outros menos.
Há mais de vinte anos, uma Delegada de Ensino pediu-me que eu parasse de escrever sobre Educação e Magistério. Segundo ela eu estaria magoando e constrangendo muitas pessoas. Pessoas estas que não percebiam que os narizes além de prescindíveis não eram tão diferentes. Pessoas que não apresentavam sequer um grau nas escalas de imbecilidade e de loucura. Pessoas excepcionalmente NORMAIS. Umas mais normais do que as outras. Pessoas que permaneciam exatamente no meio desta minha escala.
Uma autoridade educacional me sugeriu naquela época que eu guardasse meus escritos porque dali cinquenta anos as pessoas estariam mais preparadas para lê-los e eu poderia até fazer sucesso. Imediatamente exclamei: Mas até lá estarei morto! Embora parecesse esquisito, morrer seria um dos pré requisitos para o sucesso. Já se passaram mais de vinte anos e eu estou aqui testando os leitores para saber se chegou a minha vez de ser lido.
Quem sabe a sociedade avançou mais rápido do que a profecia daquela autoridade de plantão. Até porque tenho visto excelentes articulistas magoando, constrangendo e entristecendo pessoas que apresentam hoje o mesmo perfil reacionário daquelas que outrora eu magoava, constrangia e entristecia com esta minha maldita e mal tragada literatura
Jairo de Seilaoquê
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