EU GRAMATICAL *

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Leitura de poema só com cadência
Leia ouvindo a declamação

 

Quando eu morrer
não terei velório
A minha família é que terá o dela
E aquele corpo dentro do caixão
Não será o meu
Será o corpo da minha mulher e dos meus filhos
até que ele seja descartado

Porque quando eu morrer
não serei dono de absolutamente nada
E aos outros só não pertenceria
aqueles segredos e sentimentos
que nunca repassei em vida

Talvez apareçam no velório DA MINHA FAMÍLIA
muitos colegas e ex colegas
que dirão ter sido amigos
Pelo menos para cochicharem entre si:
“Não foi falta de avisar
mas ele tinha a cabeça muito dura
Deu no que deu!”

E os laudos sempre dirão
que foi morte natural
assim como as de Teori
Eduardo Campos
Chico Mendes
Tancredo
e Zumbi

Quando eu morrer
deixo de ser sujeito de tudo
Até do verbo “não ter”
De tal forma que até este poema
já teria nascido errado:
Pois eu não poderia ter dito
que depois de morrer
não terei velório
Uma vez que “eu não terei”
apontaria para um sujeito que não mais existe

Embora eu nem poderia estar dizendo
que dizer eu não poderia
Porque ao dizer “eu não poderia”
apontei para este mesmo sujeito inexistente

Não podendo dizer sequer que eu não poderia
a minha morte encerraria a minha existência
e com ela todas as minhas posses
assim como não existe divisão por zero

.

Nota de rodapé:
Caso este poeta venha a falecer antes de completar 65 anos, independentemente da causa mortis que fizerem constar nos laudos, pede que este poema seja estendido num banner de cor branca, em posição vertical, acima do caixão, com o texto em duas colunas na seguinte formatação: fonte Arial de cor preta, tamanho 72, mantendo em negrito o texto da terceira estrofe.

Jairo de Carvalho – Poeta Crítico Social e denunciante contra várias autoridades nas esferas estadual e federal desde 2014.

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